quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O Bicho em extinção

Ontem vi outro bicho
Cantando poesia livre, e poemas entre os fálidos
Que se nega a viver na imúndice do pátio
Que se nega a condição de ser só bicho

O bicho sensível, que cheirava e examinava
Tinha feridas no peito e um olhar machucado
Um olhar bonito e angustiado, mas feliz por saber ver

O bicho meu Deus que acredita no amor
O bicho que amava
Ontem vi um bicho diferente dos que Manuel via;

O bicho que olha os outros bichos no lixão e chora.
O bicho que é raro, em extinção no pátio
Ontem vi um bicho diferente

Vi um bicho que o homem não quer ver

Por que meu Deus, por que?

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O desfile da loucura

Faz de mim profeta rouca
poeta de prazer

Dinâmica do mundo falho; cegos e surdos

Nasce enfim outro homem,
na mesma condição de nunca dizer não para sociedade
Fingi acreditar nessa cegueira por necessidade
Forte, não deixa-se cegar.
Viola as leis, pede aplausos

Concilia mente e fé, reconhece-se em um orgasmo
Arranca do peito discurso de poeta
político,  e incostante de si

Da espaço a sua evolução e grita;
" Piedade senhor dos cegos por fé, piedade dos que esperam, tende piedade dos que não andam.
 pó daqui serão, mais nada!
piedade, eles não sabem ouvir"

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Achados e Perdidos; um diário Imaginário

O diário era grande e tinha poucos escritos, não por falta de história, devia ser  falta de memória, ou algo parecido. Sabia eu sem nem ter lido, que a dono devia era gostar de poesia,  regalias, mentiras, contos e talvéz massagem.
A capa era dura e negra, e me ofuscava a visão.
Os papéis, já velhos, gastos, sensíveis, distantes e tão presentes, conservava  fielmente as palavras da dona, que reconheci pela letra, era mulher, uma mulher distraída, pensei eu. As dobras no canto da folha confessava-me que aquilo tinha sido carregado de mão em mão, feito dinheiro sujo, maltidas orelhas!
A dona fazia algumas poesias feito criança indecisa, que chora intensamente e para fácil por motivo qualquer, brincava de ser poeta, brincava de ser atéia, mas hora parecia tanto saber crer, estranho.
Uma das páginas de Janeiro, talvéz dia 03 ou 04 não me lembro muito bem, reconheci uma bela citação de Vinícius, Vinícius de Moraes, bom gosto! pensei. E desse bom gosto me brotou no peito uma vontade de não devolver o diário da mulher, "que faça outro" , afimei em pensamento egoista demais pra um velho. Que se dane!
A citação escrita como diálogo, como diálogos noturnos, feito pedido dos que crêem e que esperam, esperava de mim uma resposta.

 A moça fez quase uma oração;
 " Dele se encante mais meu pensamento"

Eu, em resposta, fechei os olhos, o diário e madrugada.
(Penso ter dito amém no final, mas não lembro muito bem, dormi antes que a poesia terminasse)

Um só Vinícius


Velho sacana, bohemio, vagabundo
Vira, vira todo esse mundo
E para ele para te ouvir cantar
Poeta do perdão, perdoa além daquela canção
Essa gente improvisada, parada, sem nada,
Sem samba nem violão.
Perdoai-vos Mestre, eles não sabem o que fazem
“poeta, meu poeta, camarada”
Olha só em que roubada a gente se meteu
Falar de amor é sacanagem
Pra um sujeito descrente feito eu